segunda-feira, 15 de setembro de 2008

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O inseto é feio e vive na beleza.

O casamento do céu e do inferno

" Sem contrários não há evolução. Atração e Repulsão, Razão e Energia, Amor e Ódio são necessários à existência Humana."

"Aqueles que reprimem o desejo podem fazê-lo quando este é fraco e passível de ser refreado; e quem o reprime, ou Razão, usurpa seu lugar & governa os relutantes. Uma vez reprimido, ele se torna cada vez mais passivo até não ser mais que mera sombra do desejo."

"Aquele que deseja e que não age engendra a peste."

"O tolo não vê a mesma árvore que o sábio."

"Um morto não revida injúrias."

"A raposa culpa a armadilha, jamais a si mesma."

"O gozo fecunda. A tristeza dá a luz."

"Estejas sempre pronto a dar a tua opinião, e os vis te evitarão."

"Nunca a águia perdeu tanto tempo, como quando quis aprender com o corvo."

"Espere veneno da água estagnada."

"Escuta as críticas dos imbecis. É um nobre elogio."

"Seríamos tolos, se outros já não o fossem."

"Como o ar ao pássaro, e o mar ao peixe, o desprezo ao desprezível."

William Blake


Poentítese


MOTE: Jamais veríamos a luz das estrelas
se o céu não fosse breu.


Quando o breu, que anda vagarosamente em minúcias,
deliciando-se das palavras do poeta
tomar de vez a terra que existe em sua cabeça;
saberá finalmente a função da poesia e
a função do poeta.

E depois que seu corpo
estiver efetivamente destruído,
falido, no breu total do entendimento,
rendido aos prazeres das palavras,
que em saltos mortais emanciparam-se de um palato,
poderá finalmente saber o que está fazendo,
e que por onde caminhou, té aqui tão seguro;
nada mais era, que a beira de um abismo,
cego de tanta luz.

O poeta não caminha frente à luz.
Ele foge, como um vampiro do sol,
quer ser gelo, quer ser o eu lírico apenas,
quer ser morte para não ter que morrer novamente.
Quem conhece a luz não borra o papel com tinta preta,
reescreve os fins no pergaminho com tinta breu.

Joyce Rodrigues

domingo, 14 de setembro de 2008

Subúrbio da alma


Estou só.
No momento,
retomando a boca do subúrbio da minha alma.
Não posso ter dó.
No monumento,
escarro tendo fim na laje, que uns homens bateram até que ficasse bem rígida.
Era necessário que fosse dura,
ou levaria no peito as rajadas das metralhadoras
dos homenzinhos que tentam invadir minha favela.
Por isso...
não reclamem do colete que carrego frente o coração...

Estou só.
E estou armada. E isso é necessário.
Tenho apenas um subúrbio na alma para ser tomado,
e mesmo assim, de vez em quando, um pilantra aparece por aqui tentando invadi-la.

Deve ser porque a boca é valiosa...
contém informações e declarações nunca antes ouvidas...

A Reforma que tive que fazer quando tive dó, não tem reembolso.
Então não tenho dó e não tenho dor.
Estou de pé, protegendo o subúrbio da minha alma.
Estou só.
Joyce Rodrigues

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

O ralo e o amor do homem


Mote: Pensou um dia a mulher,
que o amor do homem supria-lhe
a carne. Não se sabe se sonho ou concreto
.



CONSIDEREM a louca mijada
jogada no hospício.

Ela questiona a água suja ingerida por toda a vida.
Diz que a água carrega gosto de tristeza.
A água indo tocar sua boca dava-lhe no instante
uma vontade de fazer careta.
Imaginava aquela água triste lavando seu corpo por dentro,
desaguando em suas partes mais íntimas.
Era insuportável mantê-la ali,
em seu corpo, berço sagrado, penitência da alma.
-a água triste não era bem vinda -
Forçava o despejo.
Ardência. Dor.
Finalmente o líquido quente e triste era motivo de seu sorriso quando indo embora.

A louca,
que não aguentava suprir seu corpo com a água da rua,
andava mijada e feliz.

Com o tempo, eliminar a água triste tornou-se instinto.
O homem forçava-lhe boca adentro,
a louca se ria sabendo defender-se do líquido,
sabendo seu corpo seu guardião.
Água triste, da rua, do homem,
sai de suas entranhas, passa as pernas, vai pelo ralo,
volta a seu copo.

Cansou um dia de ser louca mijada das águas do homem.
Recusou-se definitivamente arreganhar-se, ingeri-la.
O corpo da louca viveu sem água triste uns dias
(nunca a louca foi tão feliz quanto agora, sem a impureza da rua)
pouco depois seu corpo secou... faliu... morreu.
Joyce Rodrigues