sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Uma mentira a menos


Falemos sobre auto destruição.
Sobre os dias de morte em vida, que descobrimos,
assim como uma barata adentra decidida por sua janela,
que já estávamos mortos.

Auto destruição.
Todas as angústias são esporradas em sua cara.
Todas as misérias da alma são bebidas numa taça.
Taça que se ergue e brinda alto: Como sofro!

Nos devoremos!
Escrevamos!
Por que não doar dor?
Fartemo-nos de risadas geladas, insossas, indevidas.
Hoje é o dia da morte!
Imagem fúnebre, caixão, lágrimas, rosas!
Rosas cor de sangue para celebrar a auto destruição.

Agulhas!
Os pensamentos são agulhas viajando pelo corpo fraco, caduco, desnutrido de amor,
sedento, encantado pelo fato de poder a qualquer hora dar cabo de tudo.
Boca salivante. Pinga e deixa marcas de excitação.

Uma oração a Sócrates. Inveja de sua cicuta.
Devaneios que vem e vão.

JoYce Rodrigues

Chuva e Sol: casamento de português



Entre um ônibus e outro vislumbrei o oculto.
Entre os comboios sacolejantes de organismos ansiosos,
nas estradas barulhentas e sol rascante encontrei a chuva
que refrescou meu ser atormentado.
Tudo ficou misturado em seus olhos e arco-íris nos meus.
Quem saberia o que meus olhos transbordantes enxergariam?
Vi de longe que eu veria o oculto.

Pelos carros apressados pela morte,
deslizei de encontro a você e pus minha língua em seu sal para prová-lo
e enxerguei.
Eu vi o oculto.

Entre um ônibus e outro minha mente para no ponto.


JoYce Rodrigues.

À força


Por que ainda a vontade de chorar?
Por que ainda as pessoas como castigo?
Por que ainda lembrar que não sei amar,
Que não sei me dar?

Por que o olhar perdido?
Por que não sei ser tranquilo?
Por que a postura envergada?
Por que os olhos ao chão?
Por que ainda o comichão?
Por que não sou livre de mim,
este corpo que insiste em ser triste,
que insiste em ser arrependimento
doente
levado
maltrapilho
malvado

Por que o nada?
Por que o nada?
Por que mais um passo o abismo?
Por que insisto em ser poço?
Água barrenta.
Tudo em mim é camuflado.
Por que o esconderijo?
O alçapão em baixo da casa.
Por que as mãos dadas a mim mesma?
Por que o gozo por mim mesma?
Por que ainda egoísmo?

Por que ainda ser estranho,
diferente?
Por que ninguém ainda com olhos tão grandes
que me enxerguem melhor, que me devorem?
Quero ser refeição
alimentar almas.
Cansei de ser veneno, cansei de ser facada.
Eu quero ser caminho. Cansei de parar na bifurcação.
Cansei de ser dúvida, cansei de ser não.

Mas meu corpo insiste em ser este ser triste.


JoYce Rodrigues.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O aceno das mãos


A caixa torácica querendo deixar de ser
apenas caixa
pulsou tão alto que chegou aos seus ouvidos
sensíveis
Mas suas mãos com receio da surpresa do que havia lá dentro
pôs uma pedra em cima cerrando a expectativa
do novo salto.
E a caixa se fechou.

Os olhos ansiando sua imagem
miraram você tão longe e tão profundo,
que suas mãos,
com receio do que os olhos poderiam ver
vendaram o rosto
com delicadeza,
E os olhos cegaram.

Meu corpo.
Meu corpo querendo seu peso,
querendo morrer sufocada em sua respiração
gemeu tão alto, que ecoou pelo espaço,
e você,
com receio de atender ao chamado,
abriu suas mãos,
deixou que se perdesse,
ecoasse pelo mundo,
e caísse em outros corpos.
Meu corpo, que não pôde mais bailar
se calou.

Um dia, suas mãos enrugadas,
apontaram o indicador para si mesmo ao espelho.

JoYce Rodrigues.

terça-feira, 5 de julho de 2011

A última peça do quebra-peito


Tenho cada vez mais amado o amor.
Sente-se a capacidade de fazê-lo.
O corpo se preparou e espera ser habitado.
Piegas; flor desabrochando no seio que salta a espreita do seu dono.
Seu dono outro.
O peito órfão deseja um lar. Aconchego.
Garras de mulher aranha
teias para proteger o ninho.
Formiguinhas que circulam por toda a pele.
Mãozinhas sem apoio palpitam ao ar
lambidas por conta gotas
espera-se encher o frasco
a cura chegará
os passos finalmente dobrarão a esquina
e o portão será fechado.
Os dedinhos percorrer mais que a ideia.
o poço finalmente cerrado.
O mundo então multicolor,
o prisma se derramará sobre todos na cidade,
pessoas prismadas pelas cores do novo mundo
do lar logo ali depois da curva.
Enfim, completa.


Joyce Rodrigues.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Dia dos enamorados



Mulher sozinha pensa em romance.
Mãos frias
Olhares remotos
A solidão palpita nos corações gelados
Histórias de vida
Pessoas perdidas procurando caminho
A cordialidade toma conta de todos os lugares.
Ser ser humano é coisa de gente doida
Varrida, mal-passada.
A solução está na ousadia
De ser, por si mesmo e executar.
De se reencontrar num olhar
e enfiar goela abaixo mais uma noite sem ele.

Joyce Rodrigues.

Epidemia do século XXI


Gatos pretos que passam por trás de mim

Luta para não ser o presente da vida

Luta para impedir que nasçam as asas

Mutilação do quarto, da casa, do eu

Uma coisa por cima da outra

Os olhos mirados em momentos inoportunos no espelho

As mãos entrelaçam as entranhas

por dentro do estômago

As horas tem outras cores nessa vida

as ruas 13 esquinas

uma volta longa, sem culminância

negra

sem combustível

pipocando e explodindo por aí

sequência demente, necessária (necessária?)

instantes (um atropela o outro), cada, mais eterno que antes

A luz um ultraje

O escuro a benção

Sentimento animal, macaco, anta, barata

miscelânea mal observada

muito se espera dela

o caldo não enche o copo

o corpo

amputado

pelo simples fato de ser

humano.


JoYce Rodrigues

sexta-feira, 15 de abril de 2011

DOIS POETAS NUM BAR



Vem um atarracado
e vem um magricela,
balançam os ombros,
soberbos
e dizem que sabem delas...
belas...
merdas...
....................
As pedrinhas portuguesas,
tão resignadas,
tecidos das passarelas,
e cama dos mendigos.
......................
Copacabana ilustra o cristo
a cabana acolhe a crista
o galo canta pela copa
pela copa que não faz cabana
nem capa para o povo
que se capa, acopla...
.......................
HOMENAGEM A KAFKA
O bar está cheio de barata tonta virando lata
A manhã vem em seguida revelando os insetos...
.......................
Quando a coriza é lavada
e a cólera não se revela,
tudo passa...
assim como os passarinhos passarão...
.....................
Elas e Eles espancam meus ouvidos
mas as sensações devidas estão em alerta
porém perdidas
esperançosas
aguardando pelo alien.
........................
Ficamos nós,
as pedras das passarelas,
os mendigos,
os bêbados,
os brasileiros...
........................
Naquele bar chamado barroquinho,
tá todo mundo entre Deus e o Diabo,
mas é inho,
ninguém liga muito não.
.....................
De repente uns nordestinos
e quilos de sofrimento na maringa achatada
surrada pelo sambista
que perde a família na favela.
...................
Amélia que era mulher de verdade,
escrava da saudade do que não foi.
....................
Amélia, camélia da promiscuidade.
Amarela, tá com aids.
...................
acabou o dinheiro.

JoY e JeS

sábado, 12 de março de 2011

Joana

Passada para trás volta a andar suspensa,

sem firmeza aos pés,

erguendo-se,

tropeço após tropeço...

mesclando-se... rosada, negrume, maquiavélica; inocente.

Deprimida, sob efeito de remédios, eufórica; constante.


Ela volta. Simplesmente volta.

Ao seio da mãe, à rebeldia aos queridos, à aparência para os ausentes, ao esgotamento para os sonhos.

À reconstrução da pedreira, a demolir a candura,

a zombar de si, de ti, a zombar da vida.


Como pode ela, ajudar alguém?

Como pode ela, regenerar-se?

Ela caduca e esmola todos os dias...


É metade Lilith, outra Eva, em parte Maria arrependida...

Por todos e de todas as formas foi deixada.

Nem Adão, nem Deus, nem Hades,

nem José a quer...

E agora José? Até Jesus abandonou-te?


Não há pagão, nem crente para viver com ela, para amar-lhe.

Passou pelo milho, pela palmatória, caiu do céu, subiu do inferno, afogou-se na Terra,

e agora, seu olhar flutua para dentro...


Seu pouco Corem é monótono demais

e sua parte Perséfone, pérfida em excesso...


Trancou as algemas à cama e bebeu as chaves.

Não há juiz que a absolva.

Nem suborno, nem oração.


E agora, Joana?

Mata-te.


JoYce Rodrigues.

quarta-feira, 9 de março de 2011

O Paciente


Quarto, sala de espera... tudo tão parecido. De forma paciente aguarda-se a sua vez. O Dr chamará o seu nome, o amor gemerá sua graça, a ilusão baterá à sua porta. O paciente pega a senha. Pega a guarda. O escudo. O cobertor. A guarda da cama no quarto. No hospital. Na casa. No hospício. No hotel. Na merda. O paciente aguarda. Espera que o pássaro azul lhe chegue, lhe pie, lhe cure, bata na porta do seu quarto. No zoológico. O paciente espera. Aperta. Cerra. Espreme. Contorce. Ninguém bateu à porta do seu quarto. O Dr o xingou de paciente, a mamãe de preguiçoso. A moça do livro disse que você precisa de ajuda. Mas você está no seu quarto. No cômodo. Lá dentro. De você. Você está surdo. Como irá ouvir o pássaro azul cacarejar seu nome? Que nome? Quem é você? O paciente.

Aguarde na fila.


JoYce Rodrigues

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Projéctil


Não percebe onde existe a força na alma mais sensível? O poeta nada mais faz, do que deixar que sua nódoa se espalhe pelo mundo, percorra corações, olhos, reflita em expressões... É o terremoto no corpo, é a hora que tudo cai a atinge quem se protege no último andar. É o abrigo subterrâneo sendo aberto, e de peito nu, deixa-se que a bomba exploda e estoure seu corpo inteiro. Os pedaços humanos voam e colidem com as pessoas mais distraídas... as mais inocentes... A bomba relógio não possui paciência... não pondera... ela age, não perdoa. A beleza segue em frente aos seus olhos pouco estudados, assim com a feiúra e a angústia passeiam ao seu redor, e tudo junto te invade e você não sabe a hora em que finalmente abrirá seus olhos.

Nas trevas enxergamos como cobras. Envenenamos o silêncio, não suportamos ousadias, atacamos sem reaver motivos. Como bichos peçonhentos, damos o bote no desconhecido e nos arrastamos na lama. Assim é o homem. Sobrevive de eternos enganos e ataques. Não enxerga o que a um dedo está de sua vista! A autópsia incrimina: é assassinato! Apegue-se a copromancia e seu futuro estará ali. Afogado e claro como seus restos.

A sede de ser feliz sente medo da parte real que a vida abstrai. O poeta procura o cadáver vivo em cada um de nós. E aniquila a parte danosa. Estar morto não impede a realização. Afinal, que certeza temos sobre a morte? Que certeza lemos sobre a vida se cegos somos? Que prazer sentimos em estar com um doce amado? O que é prazer? Para alguns o absoluto encontra-se na agonia. Eu posso cantar a alegria! Eu posso caminhar pelo bosque do inferno! E mesmo lá, ou cá, encontrarei as questões... Deitar-me-ei sobre o eterno... repousarei meu corpo cansado... descansarei minhas pálpebras exaustas do esforço, da procura, já que o tato, asco nos causa.


JoYce Rodrigues.

Monte o seu castelo


Ninguém te disse que fantasmas não existem,
porém, te disseram para acreditar apenas no que vê.
Te disseram também que os olhos são as janelas da alma,
mas como fica a alma no meio de seu estrabismo?
Ninguém te disse que você é um índio domesticado, mas sim que seu trisavô era português e dono de muitas terras.
Sua trisavó, foi uma linda índia, a quem pediram que se orgulhasse do casamento com o português muito educado que veio da Europa.
Talvez alguém tenha te dito que os antepassados da bela índia foram massacrados pelos europeus educados.
O interessante deste adendo é que sua história é muito triste, porém você sorri como um bobo-alegre e continua adestrado aos moldes dos massacradores.
Ninguém te disse para se rebelar, todavia para admirar a nação mais bélica e sangrenta do planeta Pedra. Planeta Pedra porque ninguém te disse que planeta tem muito a ver com a alma e com os olhos e com as janelas.
Se fosse Terra brotaria frutos, sendo Pedra brota morte.

E ainda que falasse a língua dos anjos,
Sem dinheiro eu nada seria.
A pobreza é fogo que arde em minhas mãos.
É ferida que dói e não se tem remédio.
É o não contentar-se com o salário mínimo.
É a vida que se ganha para envelhecer.

É só a dor! É só a dor
que conhece o que é verdade.
O amor é um dom, mas o homem é mau,
Sente inveja e apodrece.

Estamos acorrentados e todos dormem.
Todos fogem. Todos morrem.
Por mais que enxerguemos em parte
Esbofeteamos face a face.
........................
JoYce Rodrigues, mais paródia da música Monte Castelo (Legião Urbana) /Camões /Coríntios 13.