sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Projéctil


Não percebe onde existe a força na alma mais sensível? O poeta nada mais faz, do que deixar que sua nódoa se espalhe pelo mundo, percorra corações, olhos, reflita em expressões... É o terremoto no corpo, é a hora que tudo cai a atinge quem se protege no último andar. É o abrigo subterrâneo sendo aberto, e de peito nu, deixa-se que a bomba exploda e estoure seu corpo inteiro. Os pedaços humanos voam e colidem com as pessoas mais distraídas... as mais inocentes... A bomba relógio não possui paciência... não pondera... ela age, não perdoa. A beleza segue em frente aos seus olhos pouco estudados, assim com a feiúra e a angústia passeiam ao seu redor, e tudo junto te invade e você não sabe a hora em que finalmente abrirá seus olhos.

Nas trevas enxergamos como cobras. Envenenamos o silêncio, não suportamos ousadias, atacamos sem reaver motivos. Como bichos peçonhentos, damos o bote no desconhecido e nos arrastamos na lama. Assim é o homem. Sobrevive de eternos enganos e ataques. Não enxerga o que a um dedo está de sua vista! A autópsia incrimina: é assassinato! Apegue-se a copromancia e seu futuro estará ali. Afogado e claro como seus restos.

A sede de ser feliz sente medo da parte real que a vida abstrai. O poeta procura o cadáver vivo em cada um de nós. E aniquila a parte danosa. Estar morto não impede a realização. Afinal, que certeza temos sobre a morte? Que certeza lemos sobre a vida se cegos somos? Que prazer sentimos em estar com um doce amado? O que é prazer? Para alguns o absoluto encontra-se na agonia. Eu posso cantar a alegria! Eu posso caminhar pelo bosque do inferno! E mesmo lá, ou cá, encontrarei as questões... Deitar-me-ei sobre o eterno... repousarei meu corpo cansado... descansarei minhas pálpebras exaustas do esforço, da procura, já que o tato, asco nos causa.


JoYce Rodrigues.

Monte o seu castelo


Ninguém te disse que fantasmas não existem,
porém, te disseram para acreditar apenas no que vê.
Te disseram também que os olhos são as janelas da alma,
mas como fica a alma no meio de seu estrabismo?
Ninguém te disse que você é um índio domesticado, mas sim que seu trisavô era português e dono de muitas terras.
Sua trisavó, foi uma linda índia, a quem pediram que se orgulhasse do casamento com o português muito educado que veio da Europa.
Talvez alguém tenha te dito que os antepassados da bela índia foram massacrados pelos europeus educados.
O interessante deste adendo é que sua história é muito triste, porém você sorri como um bobo-alegre e continua adestrado aos moldes dos massacradores.
Ninguém te disse para se rebelar, todavia para admirar a nação mais bélica e sangrenta do planeta Pedra. Planeta Pedra porque ninguém te disse que planeta tem muito a ver com a alma e com os olhos e com as janelas.
Se fosse Terra brotaria frutos, sendo Pedra brota morte.

E ainda que falasse a língua dos anjos,
Sem dinheiro eu nada seria.
A pobreza é fogo que arde em minhas mãos.
É ferida que dói e não se tem remédio.
É o não contentar-se com o salário mínimo.
É a vida que se ganha para envelhecer.

É só a dor! É só a dor
que conhece o que é verdade.
O amor é um dom, mas o homem é mau,
Sente inveja e apodrece.

Estamos acorrentados e todos dormem.
Todos fogem. Todos morrem.
Por mais que enxerguemos em parte
Esbofeteamos face a face.
........................
JoYce Rodrigues, mais paródia da música Monte Castelo (Legião Urbana) /Camões /Coríntios 13.