sexta-feira, 2 de março de 2012

*Eu sou metal


Metade entrega
Metade cobrança
Mata.
Não tem complemento, nem nominal, nem verbal. Não tem adjunto.
Metade.
Meta de vida: inteiro.

Um olho sorri, o outro enxerga.
Furar um olho?
Qual?
Meta de vida: horizonte.

Uns dedos chamam
outros acenam adeus.
Vou... fico...
permaneço.
Com Deus, ou sem ele?
Meta de vida: completude.
Escravos de Jó?
Passa anel, ou pego?
Peco.

Desejo. Dieta.
Fraqueza ou metal?
Pintado ou cravado?
Triste ou Feliz?
“Cicatriz e tinta”?
Metade.

Cubo de vida. Janela aberta.
Frestas, apenas.
Festas! Lágrimas...
Passos! De passarinho.
Tem asas? Cortadas?
Pobrezinha.
Meta de vida: não ser vítima.

Livres punhos?
Mãos atadas?
À chave. Vamos a ela?
“Poesia, mulher, poesia!”
Metade – não basta?
BASTA! Nada de metade.
Meta de vida: plenitude.

Subvalores, Subpessoas,
Subtotal?
TOTALIDADE!
Ou nada.

Joyce Rodrigues (citações de Renato Russo, Cida Sepulveda e Murillo Peres.)

Pensamentos-chave


Pessoas são estranhas quando olhadas por microscópio. Visgo cola, vermelho languidez, e não só, há roxo soco, negro esgoto, corda tripa, pulso bumbo, amarelo biles... De perto, cores órgãos, miscelânea depreciada por olhares remotos, que passam por nós, sem revisor, nem marca texto, nem consideração. Palavra forte, talvez chave. O corpo pra ser visto, tem que ser aberto. Alguém vê ninguém se não estripa a alma. É necessário considerar as páginas viradas para que se torne compreensível entender o fio da meada. É imprescindível ter consideração, no sentido denotativo: exame atento e demorado; importância; sentimento de respeito por alguém ou algo, reflexão. Uma das palavras mais bonitas do dicionário. CONSIDERAÇÃO. Estou apaixonada.

Pessoas entranhas, pessoas vírus, pessoas bactéria, pessoas remédio, pessoas pele, pessoas alma, pessoas umbral, pessoas interrogação... Pessoas são interrogações jamais encontradas. Isso me lembra resignação, conformidade. Nesta hora, sinto consideração por palavras como estas, que se disfarçam de aviltadas, mas quando observadas pelo microscópio devem ser consideradas como solução; sublimadas, tornam-se divinas. Pois é muito espinhoso conformar-se, entender que nem para tudo há resposta que conforte nosso ego (palavrinha pequena e destrutiva. Quase um palavrão em meio ao âmago). A vida pulsa em nossos ouvidos: CONFORME-SE. Encontre o nirvana. Mas a música alta que o nosso ego toca não nos permite ouvir. Devemos abaixar a música. Claro, conformar-se com o que se pode mudar, é estagnação, é triste. Mas quando não se pode mudar um fato? É necessário sublimar a palavra conformação.

Pessoas, depois de longos processos, se tornam gente. Gente Grande, Gente Coração, Gente Sorriso, Gente Lágrimas de Felicidade, Gente Humilde, Gente Caridade, Gente Boa. O texto traz grande consideração para Gente Boa, quando palavra exercida.

Consideremos, povo, que não há resposta para tudo e devemos nos conformar (sublimando a palavra). Tendo consideração (no sentido denotativo) com a ideia de que seres humanos não possuem manuais, não se encaixam em ísmos; não tornemos o ser humano inho. Tornemos o ser humano livre. Basta-nos CONSIDERAÇÃO.

Joyce Rodrigues

O sonho


As estrelas estão a milhares de distância de nós.

Há a ausência de luz
com focos de bola de fogo.
Estão fervendo em meio ao oceano infinito
fitados pela singularidade de olhares tristonhos.

Os sonhos nos seguem pelo céu,
pelos flocos do gelo derramado
na noite quente como um sorvete na boca.

Uma língua de energia
que entra pelo beco da noite
através de uma fragilidade
na áurea do mundo.

Joyce Rodrigues

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

29



Minha versão dos 29 é como toda a minha vida,intensa,
PORÉM,
agora com lentes de contato.

Um médico do oculto achegou-se e com o dedo indicador erguido, imponente frente ao meu rosto, a instalou em meus olhos. A partir daí descobri cores que meu olhar imaturo não apreciava, assim como deslumbres também sumiram.

Saí de casa e vi árvores sem raízes, pássaros sem asas, flores arrancadas.
Entrei em casa e vi um ninho, ovos, campos de centeio tão grandes que não tinham fim.

Eu não sabia, aos 28, que se podia atravessar espelhos e configurar-se novamente.
Todavia... (e por toda via mesmo)percebo o quanto são preciosos os olhos,
o quanto foram necessárias as lágrimas que os tornam límpidos,
e o quanto é imprescindível paciência para que o sorriso seja genuíno
e puro.
Deste modo, ao regresso do oftalmo, me sinto digna de banhar o mundo com os novos olhos
e dar início a uma nova jornada com orgulho do Ser.

Assim, enxergo as 30 velinhas que se tornarão Luz.



JoYce Rodrigues

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Adversativo, mas o que não é?


São passos lisos esses
pelos quais nos arriscamos,
e se a Terra for plana
há queda livre ao fim do corredor.

Se as nuvens fossem macias
eu poderia dormir ali por uma vida,
mas elas são vazadas e o resto é chuva.
Eu seria fertilizante das flores,
mas apenas isso.

Sou caquinho de ser humano
querendo ser cristaleira,
querendo brindar a vida com uma taça de papa de farinha
e o caso é pra Super Bonder.

São passos lisos esses que flutuam sobre o tempo
A brisa acertando o rosto
como um beijo de inocência.
Contudo são sonhos dos quais não se quer acordar.

Imagens oníricas que entorpecem o inconsciente,
no entanto não salvam a vida de ninguém.

Num dia de sol quente pisa-se numa grama verde
e escreve-se em uma placa com letras desenhadas:
“Aqui jaz mais um sonho despertado”
Fazemos o retorno e chegamos em casa;
dentro de nós mesmos.

Joyce Rodrigues