domingo, 10 de agosto de 2008

A caixa de Pandora


Olá! Como tem passado? Mais um atropela a vida de Pandora, com uma pergunta sem interesse pela reposta. Propriamente: vou bem! E você? Tudo ótimo! Que bom! E lá se vai outro... Pandora prossegue, entretanto, muito interessada pela resposta. Caminha pensando nas centenas de listinhas de auto-ajuda que já fez em sua vida. O que não quer ser, o que quer, defeitos, qualidades, promiscuidades, bondades, com quantos já fez amor, com quantos gostaria de fazer, dos quais se arrepende, quantos livros já leu, quantos prestaram, quantos filmes foram vistos, quais ainda precisam ser, lista dos amigos, de convidados, de supermercado, de Natal... Pandora começa a sentir-se entediada tanto quanto este parágrafo.
Resolve um dia ser sincera. Um dia. Olá! Como tem passado? Estava em alta velocidade. Impropriamente: entediada! E gostaria de falar sobre isso. Podemos nos sentar, tomar um café, conversar um pouco? Infelizmente tenho horário e já estou atrasada. Seria ótimo num outro dia, beijos. Esta tomará multa, conclui Pandora, que volta a pensar sobre seu tédio. Decide ligar para uns amigos. Oi! E aí? Aluguei uns filmes, quer ver comigo? Podemos aproveitar e tomar um café, colocar o papo em dia... ando precisando de uma conversa... - Ótimo! Que horas? Quando sair do trabalho vou direto para sua casa. Fechado, aguardo você. As horas, protetoras do destino, passaram cumprindo sua defesa e Pandora assistiu seus filmes só. Que vontade de tomar um café! O mundo anda ocupado demais para as sutilezas de uma mulher! Calúnia? Não!! O mundo anda ocupado demais para as sutilezas de uma mulher...
Alô, como vai? Pandora percebe que nenhum interesse, mesmo de sua parte, existe por essa resposta. Rapidamente: quer sair comigo? Tomar um café, conversar um pouco? Claro! Que horas? Agora não posso saber, me liga mais tarde e marcamos. Ok, até mais. Um abraço. O número que você ligou encontra-se desligado ou fora da área de cobertura. Por favor tente mais tarde. Tarde demais!! Esbraveja a mulher e suas sutilezas. Mas o mundo anda ocupado demais para as bravuras de uma mulher... O mundo anda cansado para gentileza e inteligência; mais fácil os manuais, dublagens e traduções. Cada vez mais disposto a automatização, a significância do insignificante – (pelo menos para mim)- que não me sinto tomado por esta Terra. Não há seres humanos, há urubus em lixões atrás de carniça. Como Pandora pôde imaginar?! Um ser humano de carne, coração e cérebro a passear pelas rodovias desta Terra! A mulher que esbraveja sutilezas enganou-se, obviamente.
Certo dia, Pandora teve um encontro inesperado! Poderia finalmente dividir seus pensamentos, dúvidas e convicções. Falar o quanto quisesse, gritar, xingar, elogiar-se, contar mentiras, ser inocente, indefesa, sonsa, puta, advogada, Deus! Neste amigo ela poderia confiar! Via-se num tapete mágico de Aladim sobrevoando suas conversas engasgadas. Entrou por um túnel semelhante a um grande ouvido. Deslizava e ria convulsivamente: caixa timpânica, martelo, bigorna, estribo, tímpano, janela redonda, trompa de eustáquio, labirinto... Pandora boba e sua descoberta. Nada poderia se comparar a leveza, a paz, do infinito papel que estendido estava diante de sua língua. Área de broca. Área de Wernicke.
Dava bailes e saraus todos os dias! Papel, caneta e punhos, todos dançavam coordenadamente a música de seus poemas...
Olá! Como vai? Eu poderia falar com Pandora? Pandora se mudou. Não mora mais aqui. E para onde ela foi? Quando vai voltar? Por trás daquela porta está o corpo inepto de Pandora, dentro do papel que lá está, reside a alma de uma mulher e suas incompreensíveis sutilezas.

Joyce Rodrigues.

8 comentários:

Leandro Jardim disse...

Olá!

Gostei do texto e do estilo :)

O Astronauta e o Revoltrio disse...

Muito bom Joyce... ainda vou ler td... Mas jah gostei... e as imagens saum maneiras tb... bom gosto! Abraços!

Paulo Oliveira disse...
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Paulo Oliveira disse...

Pandora se cansou de sua Caixa aberta, não gostou do que viu lá dentro, e muito menos do que viram lá dentro. Talvez a escuridão que cerra o interior de tal caixa seja o melhor pra todos. Ou talvez não, doa a quem doer. Quem não tem estômago pra aguentar que feche os olhos, mas não a caixa de Pandora. A sutileza da alma feminina de Pandora já foi corrompida, abriram demais suas pernas, como se abrissem a tampa de uma caixinha de bijuteria qualquer, desavisados que não se passavam de simples vidros e ferros, mas jóias e gemas raras que fluem de um veio rico, que enganam a visão dos simplórios, dos que não sabem de verdade o que são as mulheres. Viva Pandora, simples e complicada, alegre e depressiva, fraca e forte, falsa e verdadeira, uma tradução torta mas real da alma feminina. O corpo inerte de Pandora não é um material sem vida, mas sim um protesto e um aviso a quem se atreveu a abrir sua caixa.
Joyce, você é foda!
Do seu irmão que te ama muito!

bagunçeiro disse...

OIIII
Gostei do seu Blog
Muito Bom
Saudos do Chile
bjsss

Unknown disse...

Abri a Caixa de Pandora e encontrei um monstro que se assustou com minha terrível e excessiva humanidade...
Já é amanhã, já acabou a semana, já é fim do mês, Feliz Ano Novo!

Rafael Barreto Haddad disse...

Pandora quando viu a besteira que fez tentou fechar o mais depressa possível a caixa. Conseguiu,deixando ainda lá dentro o último grande mal da humanidade. A esperança. E enquanto aguardamos por este grande mal, façamos o seguinte: Abramos a caixa de uma vez. Vamos tirar Isadora de lá e chamá-la pra encher a cara com a gente. O que acha?

Joyce, gostei de ver, você produzindo, criando coisas boas. É isso aí, garota. Vamos lá. Parabéns. Só tenho mais uma coisa a dizer: só isso?

beijos.

Rafael Haddad

Unknown disse...

Pandora,crepúsculo outracente,perdúrio onde se corrompem meios de algozes contemplações.Meu pedido somente se contemplará se seu pecado for maior do que de Cristo.A caixa aonde Deus colocou as mais perverssas e ultrajantes percepções,que jamais um ser humano deveria provar de seus males,então foi aberta.Porquê nos derão esses pecados,não são nossos.Não vamos permitir,mas o que faremos...Arte e desejo,assim,novamente se fechará a maior,a caixa de Pandora de Deus.