domingo, 10 de agosto de 2008

Cegueira da Alma


Posso dizer a você que não existe.
A você que não lê este poema,
as formas que se modularam o útero que vivo,
o sabor rascante do líquido que sustenta meu infinito,
a cor encardida do travesseiro que tortura minha cabeça pesada,
o odor rosa negro exalado de minha boca gritante.

Posso dizer a você , um você que tem ouvido,
mas não capacidade de escutar este poema;
quantos paraísos capinei para ser admitida no inferno,
quantas nuvens eu chovi para desafogar o ódio,
quantas vezes fingi que dormia para acreditar ser pesadelo.

Posso dizer a você, que possui olhos mas não pode enxergar este poema,
porque não possui meios de relacionar-se com um espectro.
A este você não posso dizer nada.
A este você o que sai desparafusado é bagunça.
No entanto, é a oportunidade de construir.
Mas sem sentidos para poema do livro fez-se pouco
sem sentidos para poema o livro fez-se torto
sem poema para os sentidos a vida fez-se morte.

Quantas catacumbas arrombei para encontrar uma palavra perdida!
Mas agora a palavra encontra-se sem casa...
porque do livro fez-se mau sentido e não tocado.
A rainha palavra mal entendida foi ignorada.
Nada adiantou
mãos calejadas
testa suada
saliva pingava
poema sem teto.

Para que você, olhos, ouvidos, grunhidos.
Correntes, reflexo, óculos de grau e ainda miopia.
Para que o poema se ainda miopia?
Joyce Rodrigues

3 comentários:

M. Cambará N. disse...

Adiquire força que rasga... Li e reli e falei com força "poema sem teto"

E. Andrade disse...

Otimo texto, muito bom mesmo, um puta poema. Com sentimento, uma alma viva entre as palavras ali escritas, que entram e meche em quem o lê.

Unknown disse...

De que adianta enxergar num poço escuro de águas lamacentas? Tímpanos estourados perdemos a noção de direção e vamos, desesperados, mergulhando mais e mais fundo à procura de ar.

Se encontrar uma solução para esse dilema me conte.